Psicoterapia Transpessoal

Somos muito mais do que as nossas histórias...


Todo o ser humano tem em si uma natureza mais profunda cuja génese é genuína e autêntica. Essa natureza essencial que existe em cada um de nós nunca poderá ser destruída. Partindo deste príncipio, podemos dizer que aquilo que nos impede ou dificulta de expressarmos algo que naturalmente nos habita, e é indestrutível, está intimamente relacionado com bloqueios internos que obstruem o fluxo energético e a comunicação com esta nossa natureza mais profunda. Estes bloqueios à manifestação autêntica de nós mesmos são construídos ao longo da vida através de mecanismos de defesa cuja função é proteger a pessoa do contacto com a sua dor e com o sofrimento resultante do impacto negativo de determinadas experiências. Esta fuga à dor (tão necessária em determinadas fases da nossa vida) quando mantida ao longo do tempo produz uma espécie de fragmentação do Ser que leva à desconexão interna. Estas partes fragmentadas impedem ou dificultam que a pessoa viva a vida na sua plenitude pois mantém parte(s) da psique a funcionar de forma descontextualizada do momento real, com reacções comportamentais que sugerem o aprisionamento da psique no espaço e no tempo do trauma. A desconexão (trauma) arrasta para a sombra da nossa consciência não só a dor mas também partes de nós que ficam presas como uma espécie de dano colateral do processo de sobrevivência. Isto significa que ficam igualmente na sombra do trauma recursos internos fabulosos que perdem a oportunidade de serem expressos na nossa vida.

O verdadeiro alcance da cura assenta nesta capacidade de nos reconectarmos com quem somos e permitirmos o espaço necessário para que esse eu autêntico, mais profundo, se possa manifestar. Apesar de trabalharmos para psicoterapeutizar o impacto do trauma e dissolver as defesas que se foram sobrepondo e bloqueando o contacto com esse eu genuíno, o objectivo final do psicoterapeuta será conduzir a pessoa a reconectar-se com essa natureza mais profunda e autêntica que existe em si. Esta é uma das visões trans-pessoais do processo terapêutico desta abordagem.

O impacto interno produzido pela experiência traumática, depois de libertado e reestruturado, é integrado nessa consciência superior, o ponto do Eu que tem a capacidade de atribuir significado e transformar o impacto negativo da vivência em aprendizagem e crescimento. 

Talvez o mais importante, qualquer que seja a abordagem terapêutica que melhor se adapte ao processo pessoal de cada um, é sabermos que podemos escolher de forma diferente. Podemos escolher, com coragem, olhar para essas partes de nós onde ainda nos sentimos mais frágeis e vulneráveis e descobrir os recursos internos que, por conta desses mesmos traumas, nos irão tornar mais fortes. 

O modelo clínico

A psicoterapia transpessoal assenta num modelo clínico que se caracteriza por ter uma abordagem holística do indivíduo na essência da sua prática terapêutica. Esta visão integral tem em consideração a dimensão pessoal bem como espiritual do ser humano. 

Tem uma visão alargada do ser humano, uma visão que transcende o lado materialista, um principio que é comum ao próprio desenvolvimento da psicologia transpessoal. É esta identificação com o que de maior existe em nós, aquilo que transcende os nossos traumas individuais, que torna esta abordagem terapêutica tão profunda e abrangente. 

O processo terapêutico tem como princípio de base o estado modificado de consciência, um estado que não sendo de hipnose permite que a pessoa aceda a níveis profundos da sua memória sem que perca consciência do processo terapêutico. Incorpora na sua metodologia os princípios da regressão de memória, da bioenergética, dos campos energéticos, imaginação activa, visualização guiada, entre outros. Neste modelo estão integrados todos os principios da Terapia Energética.

Em alguns casos são igualmente um recurso, na forma como trabalho dentro deste modelo clinico das sessões de psicoterapia transpessoal, a introdução das técnicas da PlayTherapy e do Tabuleiro de Areia introduzindo a possibilidade de trabalhar o trauma através da expressão criativa e simbólica. A pessoa pode igualmente encontrar expressão através da pintura, da modelagem, do tabuleiro de areia, entre outros materiais disponíveis na sessão.

Campo de intervenção

A psicoterapia transpessoal valoriza, de forma indiscutível, a experiência do corpo. Cada uma das nossas células encerram em si os registos somáticos e emocionais que tão bem espelham o impacto que as experiências produziram. Os efeitos negativos da exposição ao trauma ficam encapsulados no interior da célula e no campo energético, e podem ser tão inconscientes que a pessoa perde o contacto com partes de si mesma sem que consiga ter uma explicação lógica e racional para os seus bloqueios, padrões, medos ou ansiedades. Por vezes pode ser a dificuldade em dar aquele passo em frente que poderia mudar a sua vida, ou algo tão subtil como uma crença que limita a visão que a pessoa tem sobre si mesma e que impede que acredite no seu valor, uma crença sobre os outros que dificulta viver as suas relações de forma plena, ou uma crença sobre a própria vida.

É exactamente por tudo isto que a psicoterapia transpessoal permite igualmente trabalhar com as memórias anteriores à fase verbal, nomeadamente o período pré e perinatal, incluindo o momento do nascimento e todo o desenvolvimento da criança nos seus primeiros anos de vida. Conseguirmos trabalhar na origem da formação dos nossos padrões psicológicos permite ir à raíz do nosso sofrimento e desfazer os nós que impedem o fluxo e mantém a pessoa psicologicamente parada no tempo e no espaço. 

Quando se justifica e é importante para o processo terapêutico do paciente, é igualmente possível trabalhar com uma regressão de memória a vidas passadas (experiências que podem igualmente surgir de forma livre na própria sessão).

O campo de intervenção deste modelo clinico é muito abrangente e com resultados profundos no trabalho com o trauma. Mas é igualmente um modelo que permite trabalhar com outros aspectos da dimensão humana que não apenas o trauma, a dor ou o sofrimento. Nessa medida, a psicoterapia transpessoal é também procurada por pessoas que desejam conhecer-se melhor, que desejam aprofundar recursos internos e buscam pela melhor versão de si mesmas. 


"Em todos os meus anos de prática médica, descobri que o padrão comum para praticamente todas as aflições, doenças mentais, doenças físicas é, na verdade, o trauma. E há uma sabedoria no trauma quando percebemos que as nossas respostas traumáticas e impressões não são quem nós somos, e que podemos trabalhá-las e assim nos tornarmos quem somos de verdade."

Gabor Maté (médico)